Já sei: preciso de um novo coração!
Acho difícil conseguir um, mas a questão é que preciso urgentemente! Preciso de um coração que não tenha medo de pulsar forte, que não esteja cansado de bater. Preciso de um coração que ainda esteja disposto a apanhar mais da vida e que acredite que as coisas ainda podem dar certo.
O meu, coitado, desconhece a palavra esperança. Já chegou (tão cedo) naquela fase em que não consegue enxergar mais futuro nas coisas. Tudo para esse coração acaba na última oportunidade. Ele não tem mais aquela certeza imaginária que a gente jura ter. Pelo contrário, até quando tudo aponta que vai dar certo, meu coração insiste em dizer que vai dar errado.
Mas a culpa disso tudo é dele e de mais ninguém. Eu mesma já o havia avisado várias e várias vezes: vai coração, sonha mais baixo. Quanto mais alto o vôo, maior a queda. E o que ele fez? Fingiu que não me ouviu. Passou a vida inteira, até agora, acreditando que sonhar daquele jeito fazia parte e que valeria a pena, acreditava mesmo nos seus sonhos, achava tão bonito viver naquele mundo em que nada, NADA, poderia dar errado! Vida boa aquela que vivia. Sonhos maravilhosos aqueles que sonhava. O problema é que no final acontecia com o pobre do meu coração o que eu já havia previsto. Faltava gasolina, às vezes de uma hora pra outra. Coitado do meu coração. Faltava fôlego do nada e ele via seu chão desabar. Que horror! E agora? O que fazer? Bem… nessas horas é que servem os amigos, então eu ia consolá-lo.
Mostrava pra ele um erro qualquer, dizia que a culpa tinha sido dele de mais ninguém. Com o passar do tempo, meu coração foi vendo que só fazia besteira, que só errava. Admitiu ter culpa em todos os casos, julgou seus sonhos como algo horrível, escolheu nunca mais sonhar.
Nunca vi coração mais bobo! Nunca mais sonhar? Ele estava falando sério? Sonhar é impulsivo, não dá pra controlar, então quando se deu conta disso combinou comigo para que toda vez que sonhasse, que tentasse voar novamente, eu o puxasse pelos pés e o colocasse em seu devido lugar. Assim o fiz!
– Nada de sonhos, coração! Vamos ser o mais racional possível e dessa forma tudo vai dar certo.
Pois bem, passei a agir da forma que eu julgava ser a melhor. Fui vivendo assim, passando os dias, os meses, os anos. O coitado do meu coração ficou reprimido, sem esperança, mas eu continuei achando que só assim as coisas poderiam dar certo. Agora eu me olho no espelho todos os dias e vejo que estava errada.
Meu coração que era feliz! As quedas que sofria não faziam mal algum. Uma pomadinha aqui, um curativozinho alí e tudo ficava bem. Eu mesma não sei como curar feridas, não tenho aquela vida, aquela esperança que fazia com que meu coração saísse quase que ileso de uma situação difícil. Sou movida a orgulho, ao racionalismo, isso não cura ferida alguma, faz o contrário, deixa mais aberta, permite que qualquer pingo de realidade faça um alvoroço imenso dentro do meu ser e que por orgulho eu não consiga dividir isso com ninguém, nem com um lenço de papel que enxugaria minhas lágrimas se elas tivessem a permissão de cair.
Agora eu estou tentando uma reconciliação com meu coração. Queria devolver a ele a esperança de viver novamente. Neste momento quem precisa dele sou eu, mas do jeito como era antes. Quero aquele coração antigo que não tinha medo de voar e que dava os saltos mais perigosos, mas pelo menos no final, se perdia, podia dizer que não foi por falta de tentativa, e era por ter essa garra que era feliz. Mas eu mesma deprimi meu coração, eu acho que piorei as feridas que ele já carregava e nunca permiti que essas fossem curadas. Agora é um pouco tarde pra ele e eu até entendo. Até porque eu mesma quase me entreguei.
Ainda bem que hoje abri os olhos e resolvi que quero viver mais e intensamente. Eu quero um novo coração, quero pelo menos um coração novo que se una ao meu a fim de curar as feridas já existentes. Quero um coração que funcione como bateria de carro: fazer “chupeta” com o meu para recarregar as forças. Quando isso for feito, eu quero poder chegar pra ele, pedir desculpas e prometer que a partir desse dia só iremos trabalhar juntos, já que ficar separados nunca foi o nosso forte. Talvez assim, com um protegendo o outro, tudo possa dar certo um dia!
[Valentina]